Uma das manifestações culturais mais conhecidas no Brasil e
reconhecidas no mundo, a Roda de Capoeira recebeu, nesta quarta-feira (26), o
título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. O título foi concedido
pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco).
Após votação durante a 9ª sessão do Comitê
Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial, a Roda de
Capoeira ganhou oficialmente o título. A reunião da Unesco, que começou na
segunda-feira (24), segue até a próxima sexta-feira (28) na sede da organização
em Paris, na França.
"O reconhecimento da Roda de Capoeira pela Unesco é uma
conquista muito importante para a cultura brasileira. A capoeira tem raízes
africanas que devem ser cada vez mais valorizadas por nós. Agora, é um
patrimônio a ser mais conhecido e praticado em todo o mundo", destacou a
ministra interina da Cultura, Ana Cristina Wanzeler.
Além da presidenta do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan), Jurema Machado; da diretora do Departamento de
Patrimônio Imaterial (DPI-Iphan), Célia Corsino; e dos diplomatas da delegação
do Brasil junto à Unesco, capoeiristas brasileiros também acompanharam a
votação, entre eles os mestres Cobra Mansa, Pirta, Peter, Paulão Kikongo, Sabiá
e a Mestra Janja. O som do atabaque e do berimbau comoveram os representantes
dos países presentes à apresentação que fizeram nessa terça-feira (25) na sede
da Unesco.
A presidenta do Iphan, Jurema Machado, explicou que as
políticas de patrimônio imaterial não existem apenas para conferir títulos, mas
para que os governos assumam compromissos de preservação de seus bens
culturais, materiais e imateriais, como a Roda de Capoeira.
"O reconhecimento internacional amplia as condições de
salvaguarda desse bem", esclarece. "Os compromissos assumidos pelo
governo para com essa salvaguarda envolvem ações de promoção, de valorização
dos mestres, seja na inserção no mercado de trabalho, seja na preservação das
caracteristicas identitárias da capeoeira ou na formação de redes, de
cooperação e de transmissão de conhecimento", complementa a presidenta do
Iphan.
Para isso, o órgão, vinculado ao Ministério da Cultura
(MinC), deu apoio aos próprios capoeiristas para realizar amplo inventário dos
grandes grupos de capoeira e mestres no Brasil e ajudou-os a instalar comitês
estaduais distribuídos pelo País. Neles, capoeiristas podem formular reivindicações
e compromissos relacionados à salvaguarda e à promoção dessa manifestação
cultural.
"A política do patrimônio imaterial tem uma
especificidade: é fundamental que os mestres e praticantes tenham iniciativa
porque passam a ser protagonistas da própria política", destaca Jurema
Machado.
As medidas que favorecem a salvaguarda como ação sistemática
do Iphan tiveram início com um decreto do ano 2000. Quatro anos mais tarde,
houve outro grande avanço na área, quando se criou um departamento exclusivo
para isso no órgão.
"É trazer para proteção do Estado toda uma diversidade
de práticas e conhecimentos que são patrimônio brasileiro tanto quanto prédios
e paisagens. É patrimônio vivo que implica uma complexidade grande, com muitas
ações por parte do poder público, mas que temos aprendido a fazer",
conclui.
Com o título, a prática cultural afro-brasileira que é, ao
mesmo tempo, luta, dança, esporte e arte, reúne-se agora ao Samba de Roda do
Recôncavo Baiano (BA), à Arte Kusiwa- Pintura Corporal (AP), ao Frevo (PE) e ao
Círio de Nazaré (PA), também reconhecidos como Patrimônio Cultural Imaterial da
Humanidade.
Originada no século XVII, em pleno período escravista, a
capoeira desenvolveu-se como forma de sociabilidade e solidariedade entre os
africanos escravizados, estratégia para lidarem com o controle e a violência.
Hoje, é um dos maiores símbolos da identidade brasileira e está presente em
todo território nacional, além de ter praticantes em mais de 160 países, em
todos os continentes.
A Roda de Capoeira e o Ofício dos Mestres de Capoeira
tiveram o reconhecimento do Iphan como Patrimônio Cultural Brasileiro em 2008 e
estão inscritos, respectivamente, no Livro de Registro das Formas de Expressão
e no Livro de Registro dos Saberes.
O Patrimônio Cultural Imaterial abrange expressões de vida e
tradições de toda parte do mundo que ancestrais passam para seus descendentes.
Segundo a Unesco, embora procure manter uma identidade e continuidade, esse
patrimônio é vulnerável porque muda constantemente.
Por isso, a comunidade internacional adotou a Convenção para
a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial em 2003. O documento legal
define o que é Patrimônio Cultural Imaterial, além de definir também o comitê e
os métodos de trabalho dele.
Fonte: Ministério da Cultura
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